TRONCOS DE ROSA E BARROS

 

Em novembro de 2012, descendo a costa californiana, me deparei com troncos diversos em uma das entradas de parques nacionais na beira da estrada. Suas formas, seus sulcos, feitos cicatrizes cravadas em cores, contavam uma história. E mais que prosa, fizeram das seivas surgirem versos. Me pareciam poesia nata. Ao editar as fotos, após o retorno da viagem, vi ali não só a poesia, mas visualizei todo um mundo poético, que, apesar de tão distantes da minha terra natal, parecia arraigado à origens nacionais, que tanto haviam me inspirado na obra de Guimarães Rosa e de Manoel de Barros. Ambos extremamente ligados à Natureza, sua descrição pura e densa, meio cantada no acento regional, e por propriedade, repleta de encantamentos pueris ou saudosos – seja da infância que não termina nunca, ou do grande amor que nunca se realiza. Seja na prosa de Guimarães ou nos versos de Manoel, referências aos elementos dessa Natureza são constantes. Árvores, raízes, folhas, sementes, flores, frutos. Os troncos contam a história, ora em cor, ora cinzenta, de amores, ora sólidos, ora ocos. Troncos que se contorcem ao chão ou crescem rumo à luz, ramificando feito veredas ao céu. Meras carcaças que caminham para onde não se sabe ao certo. Ora se cruzam, ora se complementam. Ou apenas viram histórias.

“O mundo não foi feito em alfabeto.

Senão que primeiro em água e luz.

Depois árvore” – Manoel de Barros

O resto era o calado das
pedras, das plantas bravas que crescem tão demorosas,
e do céu e do chão, em seus
lugares.

Guimarães Rosa

 

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